Cuidar da saúde mental é tão importante quanto da física, pois é fundamental para manter o equilíbrio das funções do cérebro, responsáveis por nossas emoções e comportamento. Além disso, interfere diretamente no bem-estar social.
Pensando na saúde mental de pessoas com deficiência intelectual e suas famílias, na qualidade de vida e na sociabilização entrevistamos a psicóloga e pedagoga, Bia Rocha, que há muitos anos atende pacientes com síndrome de Down e outras deficiências intelectuais.
Down é Up: As pessoas com Síndrome de Down geralmente são muito alegres, como lidar com algum caso que seja totalmente oposto, como uma depressão?
Bia Rocha: Como TODOS, as pessoas com síndrome de Down tem momentos de maior ou menor alegria, momentos de maior ou menor tristeza e também podem passar por processos depressivos. O que diferencia as pessoas com déficit intelectual para aquelas que não tem o deficit, recai na forma de expressar o seu sentimentos ou seja, em função do deficit intelectual existe uma diminuição e até mesmo perda da percepção do crivo social, isto é, de que forma e em qual lugar é adequado manifestar seus sentimentos socialmente Aquelas que apresentam um quadro depressivo, a indicação é buscar ajuda terapêutica e em alguns casos medicamentosa como qualquer outra pessoa
D: É mais fácil trabalhar as dificuldades de um criança do que de um adulto?
Bia: Procuro olhar as habilidades e não as as dificuldades e dessa forma, as habilidades servem como andaimes que tornam possível a pessoa avançar, seja ela uma criança ou um adulto
D: Quais os desafios da profissão hoje?
Bia: Quando falamos em proposta de desenvolvimento pessoal, acredita-se que seja para todos ganharem, sendo assim, o trabalho deve acontecer com todos os envolvidos direta ou indiretamente, a pessoa com síndrome de Down, sua família, a comunidade, os profissionais.
O grande desafio trata-se de uma mudança de olhar o que leva a uma mudança de atitude. Substituir o olhar assistencialista por um olhar de ajuda operante: o que eu posso fazer, com as competências que tenho para que essa pessoa saia de onde está vá para um andar acima?
Outro desafio fundamental, consiste em oferecer propostas às pessoas com deficiência intelectual, que possibilitem uma amplitude de consciência, maior conhecimento de si e do outro, reconhecer suas habilidades e saber usá-las a seu favor.
D: Hoje a informação está muito mais acessível, você acha que o posicionamento da sociedade com pessoas que tem Síndrome de Down mudou? Estão mais receptivos?
Bia: Passamos por vários momentos, caminhando da integração a inclusão e hoje um novo momento, o momento em que falamos e vivemos a diversidade, não mais só ao que se refere às pessoas com deficiência mas sim, a todos os grupos minoritários
D: Quais os motivos mais frequentes para pais ou até mesmo adultos procurarem orientação de um psicólogo?
Bia: Falando sobre as pessoas com deficiência, a busca de ajuda por meio do processo psicoterápico acontece geralmente através dos pais, os quais, apresentam diferentes demandas, seja para um melhor entendimento acerca de seu filho e desta forma, melhor poder ajuda-lo ou por perceber que esse filho por diferentes razões, poderia se beneficiar com a terapia
D: Existe um tempo de duração de um tratamento?
Bia: Não existe um tempo estimado para ocorrência de qualquer processo psicoterapêutico.
D: A partir de quantos anos você recomenda os pais procurarem um auxílio de uma psicóloga?
Bia: Não acredito que seja a idade que marca ou determina o início de um processo de psicoterapia mas sim, a percepção de que este recurso num dado momento, possa contribuir com desenvolvimento da pessoa
D: No tratamento você aconselha inserir a família, para melhores resultados?
Bia: Não vejo a possibilidade de um atendimento, seja psicoafetivo, psicossocial ou cognitivo, dissociado da família, dos contextos em que ela circula e dos profissionais que atendem ela naquele momento. A pessoa é resultado de uma história de vida e dos ambientes em que se encontra, sendo assim, o trabalho em rede passa ser o procedimento mais eficiente
D: Hoje está tudo bem mais acessível, mas mesmo assim existem muitas famílias que sofrem por falta de recursos financeiros. O que você aconselha a fazerem em relação aos filhos, amigos ou parentes com Síndrome de Down, para conseguir uma orientação de qualidade?
Bia: Mais do que aconselhar as famílias eu oriento os profissionais que abram em seus consultórios, uma porcentagem de atendimentos que se destinem a pessoas de baixa renda. Se falamos em diversidade, devemos vive-la de fato.
D: Acredito que você já tenha passado por experiências fantásticas, o que mudou na sua vida, no seu olhar como pessoa e profissional ao lidar com pessoas, crianças e jovens com Síndrome de Down?
Bia: Realizo trabalho com pessoas com deficiência intelectual há 36 anos e foram muitas as contribuições que recebi como pessoa e profissional, entretanto, ressalto que entender que somos únicos em nossas necessidades as quais mudam de acordo com cada momento que vivemos e que devemos respeitar e sermos respeitados em nossas diferenças, foi a mais significativa delas.