É no lar que a criança cresce emocionalmente, encontrando nele toda a segurança necessária para seu desenvolvimento. Sabemos que não é fácil dividir com a escola a importante tarefa de educar. O período em que a criança estiver na escola deverá ser preenchido por atividades saudáveis e estimulantes, através de um processo educacional baseado em muito amor, carinho e respeito.
Guardando as devidas proporções, podemos comparar o ato de nascer à entrada da criança na escola. Sua casa é tão conhecida como o útero, seus sons, seus cheiros, sua luminosidade. Esse espaço constitui o mundo da criança, um universo que lhe transmite segurança, na medida em que é experimentado diariamente. A entrada na escola exige abertura para viver novas experiências, pois é um mergulho num mundo novo e desconhecido.
Inicialmente, a criança levada pelos pais para uma visita à escola, sente-se segura, pois está acompanhada por elementos de seu mundo, extasiando-se diante das possibilidades de recreação que percebe ao experimentar os brinquedos, ao ouvir as músicas e ao ver outras crianças. Mas, no momento de tornar-se componente dessa nova comunidade, a criança vive a crise de adaptar-se ao desconhecido.
Ao ir para a escola, a criança passa a conviver com dois mundos distintos: uma parte do tempo, ela é a criança da casa que conhece, sabe seus perigos e prazeres, outra parte do tempo é aluno da escola, que ainda não conhece e cujo conhecimento dependerá somente dela. A criança percebe, então, que há coisas que gosta de fazer, e só pode fazê-las em casa, e outras coisas que gosta de fazer, e só pode fazê-las na escola.
Tem início aí seus comportamentos de indecisão, entre ficar em casa ou ir para a escola.
Os pais tomam a decisão de que seu filho deverá ir para a escola, depois têm que decidir a escola que mais se adapta às suas necessidades. Eles também vivem um momento difícil, em que surge o conflito entre proteger a criança, mantendo-a ao seu lado, e confiar na sua capacidade de adaptação, deixando-a na escola. Por isso, sentem-se tão inseguros, embora saibam que precisam passar confiança para seu filho.
Por sua vez, a equipe da escola também não conhece o universo de cada criança, suas características básicas e suas reações mais frequentes, sentindo-se também insegura em como lidar com aquela criança e sua família.
É preciso acontecer a conquista. Todos devem ceder tempo e espaço, respeitando os limites da criança. Essa passagem, esse ganhar um novo mundo, tem como ponte os pais – até que chegue o momento de deixá-la sozinha do outro lado.
Maria Rocha é psicóloga e pedagoga com especialização em desenvolvimento infantil e educação para o pensar, diretora pedagógica da Escola ÁPICE Educação Infantil.